sábado, 2 de fevereiro de 2019

Eu não queria ter ido, mas fui.
Eu escolheria ficar, mas me deixei ir.
A gente sempre vai
E indo
Se esvai....!

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Cio



Não só estás. És!
Muito mais do que vejo. Bem além do que ouço. És o meu todo sentir.
Cheiro louco. Arroubo.
Hibridez de fogo. Gozo...
Sanidade insensata.
Castidade impura.
Tecedura da morte...
Tramoia dos anjos!
Tua voz eu tenho. Teus dons. Teu tempo. E o porvir...
Tez d'alma rubra. Espúria!
Urdidura da vida...
Acalanto de sonhos.
Meus passos rumam rumo a ti. Volvem meus olhos às pegadas dos teus pés...
Nos caminhos coloridos com gotas encarnadas da esperança que te vi brotar...
E crescerá!
Como relva verde orvalhada nas manhãs fecundas
Como a aurora busca dourar o entardecer sombrio
E o donzelo pensar moço olhando mudo altar
Brejeiro
Fagueiro
Flama dos deuses
Luz da alma
Arrepio
Calafrio
Dor serena
cio...


sábado, 18 de junho de 2016

Plantio Infértil



Não é só a mentira que nos trás enganos. Muitos nos vêm trazendo flores, disfarçados de palavras de estímulo e até vestidos de carinho.
Dentre as formas de enganar, a pior é aquela que se faz sob o manto bonito dos sorrisos largos, adornados por olhares luminosos.
Quando levamos alguém a crer numa inverdade; quando usamos o terreno da boa-fé alheia para plantar convicções equivocadas; quando cativamos a ilusão; quando nos apresentamos diferentes do que realmente somos; quando plagiamos a essência dos outros.
Enganamos também quando, enfim, plantamos expectativa infértil em terras adubadas com esperança, sabendo que, ali, nada germinará.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Nó na Garganta

Sentia um misto de calor, cansaço e desânimo hoje quando cheguei à casa de um José, a última de uma sequência de visitas na zona rural sob um sol escaldante. 57 anos, 9 filhos, 5 deles menores e em casa, além da mulher, mãe de 8, sua "segunda companheira para a vida toda".
Não tem "casa de tijolo", energia elétrica, água encanada, fogão a gás, nem salário, nem conhece as comodidades "desse povo da cidade". Sequer assina o próprio nome, "os menino tão estudano, mas esse povo daqueles tempo que eu nasci não se preocupava com isso não. ..".
... E "no assunto de meio de vida" lhe perguntei se tinha bolsa família...
- Precisa não, dona. Nós aqui tem aquela rocinha de feijão, o garapé onde inda tira uns peixinho e as 6 cabra que dá leite. Deixa pros mais pobrezim que precisa mais...
Horas depois saí de lá... nem sentia mais tanto calor, nem cansaço, nem desânimo... e pra desfazer o nó da garganta só me restou secar os olhos...e agradecer!

domingo, 29 de maio de 2016

Tempestades tardias



... E eu, por ai, como eu mesma e só eu, espalho sonhos.
Jornadas silentes, estradas sem rumo.

Destinos incertos. Por certo.

Colho flores que adornaram tempestades tardias, sobre asas de algodão.
O ontem se foi com o hoje no bolso do terno de amanhãs sem tempo.

Sob as asas, pés na terra. De paz. De todos os seres. De todas as dores.

E de sonhos. De todas as cores.

Verdades


A verdade não muda de cara. Ainda que sob quilos de maquiagem, fartas pinceladas de verniz e embrulhada com papel de seda.
A verdade não assume os traços que lha quisermos dar.
Ela é sempre única.
Pode não estar na linha de frente. Às vezes se recusa ao primeiro olhar, à palavra dita, às intenções declaradas.
Recôndita, seu brilho pode ser resguardado da luz, sim, inclusive sob sorrisos esbranquiçados e olhares iluminados, carregados de amizade pífia.
E mesmo quando tentarmos, por covardia, insegurança, comodismo, medo ou vaidade, dar-lhe uma máscara matizada de preto e branco, ela estará lá, em seu pedestal, imutável, colorida de carmim.
Muitos tentarão dar-lhe lampejos de outra cor. Daquelas em que, não raro, preferimos enxergar.
A ingenuidade não a atenua. Aduba de breu todos os pontos de cor.
Faz-se escuro. Até que o tempo lhe traga à luz.

Negritude



Minha pele não tem raça. Minha alma é sem cor.
Meu nome é Maria.
E meu sangue é de gente.
Somente.