sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vaidade não é autoestima

“Qualidade do que é vão, ilusório, instável ou pouco duradouro. Desejo imoderado de atrair admiração ou homenagens”: Assim o nosso léxico define a vaidade, um dos mais ásperos obstáculos a serem transpostos pelo ser humano na busca do crescimento pessoal. Muitos a mascaram sob o álibi da autoestima, o que não pode ser entendido senão como mero mecanismo de justificação, consciente ou não.

Vaidade não é autoestima. Autoestima é a consciência do próprio valor. Quem tem autoestima reconhece o próprio lugar no mundo e seu valor neste espaço. Conhece suas virtudes e reconhece seus defeitos; não se deixa abater ou envaidecer com as descobertas que faz sobre si próprio. E é freqüente que tais descobertas resultem de busca cotidiana pelo aprimoramento.

Num comparativo entre a vaidade e a autoestima pode-se considerar que a primeira é a exacerbação da segunda. Isto mesmo: A vaidade é a autoestima adoentada. É também uma evidência de inferioridade. Disso decorre a necessidade da vanglória, da jactância, da bazófia. Para o vaidoso, a necessidade de mostrar que fez é maior que a preocupação com o fazer bem feito e, quando o faz, sobressai-se como objetivo último o mostrar tal resultado aos que o rodeiam, deixando patente sua necessidade de chamar a atenção e de merecer reconhecimento. A satisfação não reside no bem feito, mas no reconhecimento dos outros por tê-lo feito, na admiração dos outros e nas homenagens consequentes. O ato mais correto e o mais perfeito resultado, sem aplauso, nada significam.

O que é bem feito há que merecer reconhecimento. Desejar ser reconhecido é comum nos seres humanos. Mas o vaidoso transforma isto em sua principal meta, ultrapassando o respeito, o bom senso e a capacidade dos outros.

Assim é que, não raro, encontramos pessoas que, numa roda de conversa, falam sobre si sem parar e não dão qualquer importância para o que dizem os outros. É delas a melhor roupa, a melhor iniciativa, a maior capacidade, o maior esforço, a mais larga experiência, o maior isto, o melhor aquilo...

O vaidoso não tem preocupação de se moldar ao mundo, pois tem a convicção de que o mundo deve se moldar a ele se ainda não o está. De que tudo deve ocorrer ao seu tempo e da forma como ele espera. Ou seja, o vaidoso vive fora da realidade. Disto decorre sua sensação de superioridade, sua visão fantasiosa e inadmissão dos fatos como eles são.

O vaidoso é dotado de aspectos muito peculiares em relação aos outros. Àquele que é alegre custa disfarçar o riso; quem está triste mal disfarça sua tristeza. Assim como é difícil sorrir ao que está triste, também é penoso chorar a quem está alegre. Mas ao vaidoso é fácil metamorfosear. Só o vaidoso sabe camuflar a alegria em tristeza, e esta em prazer. As feridas o lisonjeiam por demonstrarem o ardor da peleja que enfrentou. Elas evidenciam as circunstâncias da vitória; as cicatrizes, por mais que causem deformidade, não entristecem ao vaidoso, porque as tem como uma prova muda de fácil entendimento, da qual decorrem a admiração e o respeito de todos.

No vaidoso a sensação de ser o mais singular dos seres é proporcional à sua capacidade de engendrar. Ainda que tal singularidade não adquira só pelo bem, não só pelos louros da virtude, quiçá pelo da culpa e pelo do engano, olvidando prontamente a verdade, nessa alheta.

Esquece-se de que o mecanismo orgânico que nos permite ouvir se desdobra em relação àquele que nos possibilita falar. Olvida-se de que a melhor forma de aparecer não é impor aos outros um marketing pessoal desmedido, seja ele qual for, mas despertar em outrem a vontade de se interessar por nós, como conseqüência natural do que realmente somos e fazemos.

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