sábado, 5 de dezembro de 2009

Nordeste

Quisera ser meu o dom
em um só tom
limparia o breu da sombra e da morte
antes que a madrugada o tempo deitasse
sem pressa
sobre as ruínas da vida
na noite tingida
faria fluir do coração da terra
um exército impossível
indomável
como abelhas operárias
lançaria um mel de ternura
apagaria o mal deste chão
recobriria o dorso das serras
os troncos retorcidos das árvores
a profundeza dos abismos
o fel deserto insalubre
o pontiagudo das pedras
os brejos e veredas desolados
as flores murchadas
a terra rachada
as bocas submissas
a vastidão do cerrado
os lúgubres chapadões
as vagas de luz
e mergulharia em última flama
o caldo cor de ferrugem
do grande sertão
viveiro de insetos
caldeira fervendo
entranhas gemendo
a dor e o lamento
volveria em fermento
de força e de vida
teria guariada
essa gente sofrida
essa terra esquecida.

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